Para o nortista, a ``pupunha`` é o fruto, que depois de cozido, acompanha bem o café preto. Já o resto do país conhece mais a pupunheira. Palmeira da qual também se extrai o palmito, além do açaizeiro.
E não é que um grupo de estudantes do curso de Licenciatura em Música da Universidade Federal do Pará (UFPA) resolveu mostrar o sabor tropical da música paraense de uma forma bem diferente. Não por acaso, o nome da banda é La Pupuña.
Tudo começou quando eles resolveram estudar os mestres da guitarrada Aldo Sena, Curica e Mestre Vieira.O trio amplifica as guitarras em linha direta com o som, sem pedais ou sup ortes caros.
Dessa maneira, a pesquisa intitulada Guitarrada – a música instrumental com sotaque paraense acabou virando experimento. A banda formada por Adriano Sousa (bateria), Marcio Goés (baixo), Diego Muralha (guitarra), Luiz Félix (guitarra e percussão), Rodolfo Santana (teclado) e Ytanaã Figueiredo (voz e percussão) mesclou elementos do rock, do merengue, surf music, brega e principalmente, da guitarrada. O resultado? um som instrumental que tem autoria e ritmo próprio.
O La Pupuña estreou no Rec Beat, em Recife, tocando para cerca de cinco mil pessoas. Hoje, continua sendo presença marcante nos bares de Belém, além de se apresentar em eventos, festivais e shows por todo o país. Som de ritmos múltiplos com um gostinho paraense. Impossível não se mexer.
A prova da pluralidade do grupo foi o encontro deles com outra banda independente do Pará. Madame Saatan, que hoje é o ícone do heavy metal paraense, junto com o La Pupuña, cantam uma música em homenagem a Belém
1985. Segundo ano do Sambódromo da Marquês de Sapucaí. Fernando Pinto, carnavalesco já consagrado, apresenta na sempre inovadora Mocidade um enredo completamente diferente do que usualmente era visto . “Ziriguidum 2001 – Um Carnaval nas Estrelas” era a aposta da agremiação de Vila Vintém para manter a tradição de alta competitividade que teve durante toda a década de 80.
A união entre dois temas tão diferentes – carnaval e espaço sideral – rendeu belas criações. Era como se o mestre sala fizesse sua evolução com o brilho de uma estrela e a porta-bandeira girasse com a perfeição da órbita dos planetas. Era hora dos seres extraterrenos caírem no samba ao som da bateria, como bem apontava o excelente samba-enredo.
Eram mais de oito da manhã quando a escola entrou na avenida. O impacto e a empatia com o público foram praticamente instantâneos. Mas o que mais encantou naquele momento foi a fantástica concepção visual que o carnavalesco conseguiu, iluminado pelos raios de sol que pareciam comtemplar a festa como nunca fizeram. Saíram as alegorias estáticas do passado e entraram as com movimento, vazadas, brilhantes, gigantescas. A evolução impecável foi carregada pelo canto a plenos pulmões de um dos grandes sambas do Carnaval Carioca em todos os tempos. No fim, o título consagrador de uma apresentação irrepreensível.
Quero ver no céu minha estrela brilhar Escrever meus versos à luz do luar Vou fazer todo o universo sambar! Até os astros irradiam mais fulgor A própria vida de alegria se enfeitou Está em festa o espaço sideral Vibra o universo hoje é carnaval!
O ano era 1948. A famosa democracia racial ainda não era vivenciada, o fantasma da escravidão era ainda mais vívido do que hoje e o negro era inexistente nos grandes espetáculos de cultura erudita. É então que a bailarina Mercedes Baptista, negra, tem a ousadia de disputar uma vaga entre o corpo do Theatro Municipal do Rio de Janeiro. A bailarina, diferente das demais concorrentes brancas, fez o teste juntamente com homens. E o inesperado acabou acontecendo quando ela foi aprovada.
Mercedes não apenas quebrou a barreira de ser a primeira negra a integrar espetáculos no TM. Construiu ao longo de sua carreira momentos importantes de vanguarda para a história da dança brasileira. O hibridismo proporcionado pelas suas coreografias, que uniam elementos vindos de danças como o Corta Jaca, o Funeral de Rei Nagô, o Corbarão, o Mondongo, o Jongo e Congo, com os tradicionais passos das danças clássicas, foi uma verdadeira revolução para a criação de um estilo todo peculiar de unir produções culturais opostas.
Na década de 60, Mercedes se dedica a outra de suas paixões: o carnaval. No Acadêmicos do Salgueiro é responsável por uma revolução ao introduzir as alas coreografadas (no enredo Xica da Silva em 1963 na famosa ala Minueto - foto). Em 1964 repete o feito em outro enredo de temática afro “Chico-Rei”.
Mercedes é um dos tantos personagens da história brasileira que não tiveram o reconhecimento que merecem. Um dos tantos negros que se confundem com a própria história da construção da nossa identidade.
O violino com o batuque do tambor Corta-jaca, mondogo, me leva! Ao "pás de deux" no jongo e, "entrechat" no congo Início de uma nova era
De onde vem essa cultura vibrante que povoa os quatro cantos desse país, transformando a simples expressão popular na mais rica concepção de identidade nacional? Como são as relações onde o nosso é esquecido e diluído enquanto o exterior é exaltado e vivenciado em plenitude? É esse o objetivo desse blog. Refletir sobre a história brasileira e as expressões culturais de ontem e hoje.
Estudante de Jornalismo, apreciador de rock britânico, pouco cuidadoso com as palavras, rico de espírito, triste com as relações nesse mundo e esperançoso com o futuro.